quarta-feira, 4 de maio de 2011

Os magros são mais saudáveis?

Nem sempre. As surpreendentes descobertas sobre as razões e consequências da obesidade que avança no Brasil e no mundo

Cristiane Segatto

APARÊNCIA NÃO É TUDO
Mherielen é obesa. Fábio tem peso normal – mas isso não é garantia de saúde
Qual das duas pessoas desta página você acha que tem mais saúde? A gordinha Mherielen Silva Dias, de 25 anos, ou o esbelto Fábio de Moraes, de 35? Na cintura de Mherielen, as dobras de gordura sugerem que ela seja uma pessoa pouco disposta, que tem as artérias cheias de colesterol e mil razões para frequentar consultórios médicos. Fábio parece ser um rapaz ativo, que seleciona muito bem o que põe no prato e consegue ser aprovado em qualquer check-up de saúde. Essa leitura superficial, baseada apenas na aparência física, é a mesma que leva algumas empresas a preterir candidatos obesos por achar que eles necessariamente têm baixa autoestima, provocam mais despesas médicas e faltam muito ao trabalho. É uma generalização preconceituosa.
Se você apostou que Fábio é o mais saudável, errou. Sim, acredite. Mherielen, com seus 100 quilos, pode ser considerada uma obesa com perfil metabólico de pessoa magra. Não tem hipertensão, diabetes nem colesterol alto – desequilíbrios frequentemente provocados pelo excesso de gordura, que podem ter consequências trágicas como infarto, derrame cerebral e morte. “Não sei como meus exames são todos normais se eu tenho esse peso todo”, diz. A história de Mherielen é ainda mais surpreendente quando se analisa sua pouca disposição para a atividade física. “Caminho de vez em nunca.” Isso significa uma caminhadinha suave de uma hora a cada 15 dias. Sua alimentação, no entanto, não é das piores. Arroz, feijão, salada e carnes na maioria das refeições. Mas não resiste aos chocolates. É capaz de devorar quatro barrinhas de uma só vez. O que explica a saúde da moça? “Uma pessoa pode ser muito gorda, mas ter genes que não favorecem a elevação dos níveis de colesterol e triglicérides (outro tipo de gordura que também ameaça a saúde cardiovascular)”, diz Raul Dias dos Santos Filho, do Instituto do Coração, em São Paulo.“Um magro pode ter os genes que fazem esses níveis aumentar muito. Em obesidade, as coisas não são tão simples como as pessoas imaginam”.
Talvez Fábio seja um desses indivíduos com genética favorável ao acúmulo de gorduras no sangue. Ele é um magro com metabolismo de gordo. Tem 1,73 metro e 68 quilos, peso considerado normal em relação à sua altura. Não engorda, embora seus hábitos alimentares assustem qualquer nutricionista. Gosta de batata frita, carne gorda, churrasco, fast-food. Pula refeições e torce o nariz para as saladas. Trabalha o dia todo, estuda à noite e diz que não tem tempo para atividade física. Os maus hábitos fizeram os níveis de colesterol e triglicérides subir muito acima do normal. Há quatro meses, Fábio está tomando remédio para tentar baixá-los. Diz que em 2009 vai mudar de vida. “Quero voltar a nadar para me livrar do remédio e deste perfil metabólico obeso”.
Gordos e magros podem sofrer da chamada síndrome metabólica, caracterizada principalmente por colesterol elevado e resistência à insulina. Nesses casos, o corpo não consegue usar de forma adequada a insulina produzida pelo pâncreas. A pessoa se torna diabética. O principal sinal da síndrome metabólica é o acúmulo de gordura na região abdominal.
BEM RESOLVIDA

Thays, de 23 anos, em Hortolândia. Ela diz sofrer preconceito por ser obesa, mas é saudável e se sente bonita. “Muitos homens preferem as gordas”, diz:
Histórias como a de Fábio e Mherielen demonstram que a obesidade é uma condição mal compreendida. Ela não pode ser explicada apenas como fruto de escolhas pessoais inadequadas. Nem pela preguiça ou pela falta de amor-próprio. É resultado de uma intrincada combinação de fatores biológicos, psicológicos, sociais e culturais.
Entender as novas teorias sobre a obesidade é importante sobretudo em países em desenvolvimento como o Brasil, onde a proporção de pessoas acima do peso normal cresce a cada década, mas ainda não atingiu proporções catastróficas como nos países ricos. Nas últimas três décadas, o Brasil viveu uma complicada transição nutricional. Saiu da desnutrição para o sobrepeso (um pouco acima do normal) e a obesidade (bastante acima do normal). Em 1975, o índice de desnutrição na população acima de 20 anos era de 9,5%. Em 2003, havia caído para 4%.





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